06 abril 2015

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de noite o balaio de ódios não cessa e o sonho dos felinos dorme sob as marquises. esses bichos agora sonham nuvens densas com entulhos de dias pretéritos, também mau acampados. o súbito frio da noite os aceita, espertos quase visíveis que se acomodam entre as distrações humanas. As esperas que ensejam o sono da humanidade não os devoram o travesseiro e as esperanças não os vem com pele escamas de górgonas. no profundo silêncio das ruas uma literatura universal os abraça qual solitude que não sabem existir para embalar-lhes o sono leve. a leveza de seu corpo ergométrico e brilhante agora apaga no escuro uma respiração que se não os fez levitar no passado assim também os perde enquanto não caem em pé mais uma vez na engenharia de um projeto majestoso: seu dorso afeito ao salto levará o tempo de alguma serenidade respeitosa pelos muros e telhados como um canto de walt whitman à nyc. para eles qualquer vila é a grande cidade que os sonhos alcança pela nuvem que se esvai. os homens e suas dores, suas amenidades, seus exercícios na praia, suas míseras palavras,(...n) não lhes puderam compreender o ego anti-canino, e quando podem maltratam sua beleza sem piedade da hipocrisia dos costumes nos clubes, nos festivais e vernissages, nas datas festivas, no artigo domado pela academia, nas intrigas políticas, no trânsito só pela beira mar sob o verids quo do daft punk, na entranha do brasil carcereiro do preto e do pobre, na falta desesperada de um beijo, na páscoa sem cristo e com chocolate, nas revistas de administração e negócios. bichos que não nos sabem. ah, a noite... por um momento nos esquece, e voa sobre si mesma, e outra, é livre também, inspirada em seu sono banal.

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