enquanto
trocam de cenário, para a cena em que me revolto contra a paz, escrevo. é meu
peito romanesco o liame ante a derrisão súbita, a norteadora adscrição às
minhas próprias palavras para lhe acarinhar numa saudade sob a água na qual
começo a ser lavado enquanto lhe escrevo uma carta de roma.
essa
chuva sutil, brisa em minha língua e logo lava do vendaval que eriça tua nuvem
como um bico de seio no céu. você vê que a
chuva molhou todos os meus papéis. continuo escrevendo, no entrecenários, enquanto
os contra-regras passam por mim, e carregam lanças, escudos, promontórios de
gesso; puxam cavalos ou orientam imperadores substitutos e algumas dançarinas
de dioniso com as quais contracenarei. seminuas, elas me olham obtusas. não lhe
imaginam, mas sabem o quanto existes: porque tuas mãos em meu cabelo estão nos
meus gestos, quando verifico a calva dos anos anódinos, e teu cabelo
emaranhando o poente vence comigo a praia, desde minha juventude, quando fui
motociclista. em minha voz, também estás, quando declino ou aceito o convite
para o happye hour da nova trupe, no sarcarmo descolado da contemporary art, caras que não sabem o que significa um
relógio de ponteiros no pulso esquerdo. por isso também, chapolim_oficial me
acerta no peito, mas eu sobrevivo.
meu
desolo que nunca secou por vc ter jogado na praia nossas fotografias é pó
saudade; mútua, complexa, sem interpretações. o zero q vazará, várzea úmida.
este amor, se alguém cantasse mais do que
ninguém. esse, de tão sincero, mais
que o silêncio e o grito, descrê uma época da inocência. é quando
compreendo que te amo. porque de muitos longes diários da cidade observei tua
silhueta, a pele clara de teus abraços de palavras com teus amigos, o senhor da
banca de revista, amarildo, mesmo tuas amigas festivas do jogo de vôlei, os primos
que lhe admiram, tua amiga silvia, que está feliz, tua irmã flora, pessoa fina,
e que lhe é sensível. gente que pouco me sabe, menos ainda os tenho perto, mas cada
qual para mim lhe evoca. distante, soprei meu carinho sobre eles, como fosse
poeta, e se aparento um descolocado asperger soberbo em minha pouca retribuição
aos que me são afetuosos, é por respeitar tua decisão de viajar para longe,
assim de meu último bilhete, que não lhe encontrou em teu endereço; e também, confesso,
pela causa da lança romana fincada em meu coração, quanto a quebre na ponta do
marlboro cinzeiro bar, por sequer ter-me perguntado sobre minha encenação, na feira
de variedades circences grotescas municipais, sim, há alguns anos, quando sonhara
certo glamour, antes desse novo trabalho.
a
chuva agora devasta, sonora. a morosa dor. volteei
o bailado cego e som de nuvem na voz. mas longe vejo vir a civilização
romana, e visto-me do paramento gaulês, escrevo estas linhas. o diretor
conclama aos coadjuvantes, fecho meu moleskine e o celular para entrar nas
guerras da gália: sei que não sou julio césar: sou um homem sem qualquer
talento para a miopia, ao contrário, meus olhos lhe alcançam sem a minha
permissão. (quando a lua tem um olhar
triste, delineados olhos com lápis, sorridentes sem qualquer lembrança de mim,
mesmo que haja nascente nítido reflexo do jorro de luz que eu lhe faço.)