a noite
nos canta e inventa a esperança.
os sonhos eram; o que eles nos deram
nunca os alcança.
a noite é moça, os seios
numa melodia secreta
quando a aurora
é queda na pele clara tenra doce.
o vazio dissipado pelo sol da promessa
é asa da palavra.
na ponta da minha língua
finjo que tenho civilidades sem desejo.
as palavras à espera de amor estão suadas
com as dores que não se deram.
por que a dor é a melhor arte?.
pela aurora eu caio na tv fechada
e do sofá o cetro controle acende a sony:
os espasmos-luz jorram na sala
o abismo de lume letal do mundo:
canção da noite / homem bicho rosto pó.
vou até a sacada de onde vejo a rua:
o antigo dodge charger no meio fio tosse um aviso.
mas sem tempo para o esquecimento
arqueio as asas. decolo sob o sol.