01 novembro 2012

Voragem


No 3º sinal eu cheguei perto de você. Tuas mãos descansavam leves no voltante. Tua boca tinha o gosto azul ou a tarde imperativa passada da praia que anoitecera mar intenso a te acarinhar a dor; e para as festas imersas no vício dos homens pelo black tie o calafrio de uma felicidade, roubo de um sorriso, de silêncio em silêncio em som sem lei, quando a lei não era a cura e nos achávamos, no corte na releidura inflexível no tempo do sinal vermelho tua pele banho de lua era doce; com palavras desconhecidas e esperanças plagais. Era isso. E quando ia terminar o beijo, devagar e denso, no teu carinho eu senti tuas mãos no meu cabelo e na minha nuca. No meu ombro esquerdo. No meu brinco de prata.

Eu falava, high level. Você dirigia mais devagarinho, meio sorriso como se me mangasse ou longe de acreditar me prateava de si, e num momento, com muito tato, chegou a perguntar o que era que eu dizia aquele dia; e eu te disse, quero lhe dar um presente. Está aqui; e fui abrindo a bolsa preta da CAT que usei para atravessar o parreiral prensado pelas escavadeiras tropicais. Daí deu o terceiro sinal, ali perto da rua matriz de Bento Ferreira e tocava Tom Jobim, som do carro que me tirou o prumo.

Meu coração sente a prata da lua, e assim no presente me lembro de antiga reportagem do antigo Corvette na antiga revista de carros modernos dizendo que a vida começaria aos 140km/h. Clint Eastwood republicano elabora que “se existe uma arma no recinto eu quero que esteja nas minhas mãos”. A cada sinal vejo você debrear o vestido caqui palmo acima dos joelhos. Evento. E de súbito emendo discurso desde os casarões do Barro Vermelho, falo com uma dor e uma solidão passarinhadeira avarandada, contra o vento que fui e sou o incêndio dentro do peito é um segredo sem mundo.

A cidade impressionista nas janelas, quando o carro vencia o asfalto. Enquanto dirigia, você exortava também ao trânsito de presépio que Elmo Elton não adivinhou; e com uma doçura no corpo volteava em gestos a escolha de vestígios, restos de ruas que se juntando na composição de um texto lido me enfrentavam na dança sagaz de um primeiro parágrafo com uma bala de prata como ponto final.

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