18 abril 2012

ontem

cinco e meia da tarde a sala de espera é cega. sem óculos de leitura cada meio grau faz falta como falar. fone de ouvido de camelô plugado no iphone björk é parecida com sylvia plath. e démodé na sala ampla absorvo som e cor na arquitetura vasta década de 70. antes parei a moto no bob’s da praça dos namorados, ovomaltine olhando a ilha do frade e meu coração é um veleiro, janirez. a noite aos poucos vem, sobe a cidade e chegará ao ápse destexto, das palavras rosas, azuis,.. o resto será o silêncio arrebatado de uma vírgula musical. quando a noite vem sobre o oceano é a minha juventude, a qual gira esses ventiladores estáticos, em movimento. a escultura sonora do trânsito revoa pelo céu de perversa iluminação, esses prédios que a orla aterrada plantou sobre o mangue. escuto a ivonete dizer que fernando esqueceu o celular, homem com bmw branca,. numa frase do dr house pela tv acabo comigo lendo o aplicativo do sherlock holmes, olho meu capacete negro fosco outro lado no sofá como uma tábua de salvação, de logaritmos. o encontro de luck skywalker com darth vader é a herança paterna que resiste contra o papo cabeça das redes sociais, da ausência de telos da festa. mesmo que olhe com uma fúria pós-moderna, entretanto meu comentário preconceituoso sobre esportivos brancos não me livra da doçura e observo o aceno de tuas mãos que desenhavam no ar esses gestos que você faz bebendo alguma coisa e conversando com adriana e clarice um pouco afastadas da muvuca do agregado; adriana e clarice, das quais não consigo lembrar os rostos te escutavam com avidez, ouviam tua explicação bonita, bem humorada. teus gestos faziam também pequeno arado no cabelo, pouco acima da nuca, onde uma maré preamar o fazia voltar desobediente e imenso mundo finito se erigia enquanto conversássemos. aqui na sala de espera sou o só maior sem partitura, o contrário dá dó. as escalas complementares rodeiam meu corpo e dançamos quase em silêncio. não escrevo bem. nem danço. navego na sala e me espero hoje uma elaboração pífia para o mundo escrito de um desejo escavado, igual minha escultura em cimento e ferro que me valeu a antitetânica. pisar fora da lei é um custo para o homem que tem um terno preto. o escuro além do orbe nos mostra o quão pequenos somos no grão de mostarda quando acredito, todo caminho leva à roma reversa nos caminhos ínvios dos dias lindos, ensolarados em nós. roma. chove desde o último livro, hoje eu gostaria de ter aquele amigo de bar, com quem se faz o rápido comentário apenas uma vez. seu garçom, faca o favor de me trazer cigarros. noel rosa desdenhou o futurismo mas é provável escutasse o contemporâneo de björk. assim sylvia plath recita meu sol numa dicção assertiva e se pode saber, na promessa modernista e ampla, o quanto quem nasce lá na vila nem sequer vacila ao abraçar o samba. o interfone da secretária é superposição ao horroroso rádio fm; jogado no sofá escuto o bocejo de avizinhados passantes de revista. fernando voltou, agora de moto (também bmw e branca). espero minha hora, sei todo o texto que esquecerei quando deitar no catre de espinhos, faquir ouvindo humhum e sim. até vir uma pancada. nessa hora camburi estará com um céu de fogo, rosado leve que me leva e vele lembra vale mais que mil palavras

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