15 agosto 2011

salas & abismos

aqui na sala da casa dos meus pais o domingo é silencioso. sono largo que a geração agora experimenta, e a leve bozina do carro que passa na cel monjardim, quem saberá. esquina alcançada pelo som do pássaro sem partituras, mármore austero do edifício na queda em sombra sem água, no que a memória é solidão na imensa sala e seu mobiliário, espaço de um tempo das festas como as da casa demolida, as orações, versos, músicas em coro, tapetes voadores, telas, momentos de alegria e tristeza que vieram conosco e nos levaram ao outro em nós, quando somos o quanto deles em qualidades especulativas, no desconhecimento e surpresa que temos de nós mesmos. o dia vai azul cálido apazigua a voragem vasta criatura. o pára raio no alto do outro prédio é uma escultura de ferro que voa; o vale sem a árvore centenária arrancada nasceu na pracinha do carmo sem saber qual sua história; os novos automóveis para meu catálogo memorial é o design de testosterona impune. olho as janelas olhos gulosos de escriturário formal escondendo o sorriso da tarde bonita; essa tarde é uma moça boba. êta. o sorriso dela eu penso baixo em rápido comentário disfarçando a gana rude das mãos, apenas uma vez qual aquele i miss you inclassificável e lépido que é bom com olhos de fogo a despir tua palavra. minha língua é um nome próprio. as palavras tem cada qual a nuance de uma dor quando se entregam sem pensar, enquanto em pensamento comento em voz baixa, comentário de boteco com chorinho. comentário tão rápido que não chega a ser segredo.

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