18 fevereiro 2010

Facas

O mágico afia o sorriso, volta a cartola contra o abdome, despista os olhos azuis de Joana. Aperta com o pé esquerdo a ponta do botão: a moça que será cortada ao meio nesse momento deita lentamente e mostra ao advogado de terno cinza o contorno das coxas. Rubras flores vêm ao seu encontro, abertas, e tem perfume,.. quando despistam para o mágico a chave mestra da engenhoca que lhe cai à pragmática mão direita; ele a usa enfiada aos poucos e de lado, até forçar, numa mecânica previsível, pelo que a jovem grita. O instante de silêncio sofre na platéia e Joana também molha nas mãos de suor e curiosidade tímida, difícil. Então a moça se levanta e passeia incólume com a felicidade intumescida no semblante, até vir ao mágico novamente laçar o pescoço de seu dominador; ela sorri lépida enquanto a carnação brilha tesa, e esvaece na escuridão sob o pano.

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