07 agosto 2008

...quando o Sol sarar

Boulevard. Escuto uma música década de 70, meu cancioneiro Barro Vermelho contorce. E essas mesas de granito impessoal, frias igual consultório médico. No Boulevard a décadence é um lugar, material literário. Ao lado um casal de namorados decide como consertar uma sombrinha cinza claro. Discutem mansamente, citam a internet. Lá fora a chuva rala afronta o motociclista que sai com uma Suzuki. Antes disso, olha para mim e diz: chuva e motocicleta não combinam. Sorrio concordando.

Não lembro da endoscopia. Impressionante o efeito da anestesia, um delete dado ao leque de pequenas amenidades, o não ver da paragem lúcida, oh mundo vasto imundo. O embrulho da vinheta nos vela, é das 7, esporra da televisão penduricalhada. Saio, volto ao portal de onde se vê que a avenida está cheia de escravos. Respiro, sinto o Real.

Anoitece e espero o aluno classe média alta. O ventilador Venti-Delta, a porta semi aberta; a escala maior. O Canário do Reino que o vizinho homem de bem colocou pra passear pendurado no muro. É uma gaiola pequena, assim como é pequeno nosso mundo.

Sinto apenas meu corpo, tenho esperança. Numa sintaxe sem decência, a inflexão de seu modo escolhe pensamentos, compõe histórias. Em jejum, espero a endoscopia amanhecer o próximo sol. Aqui um mosquito revoa cantando desafinado. Minha cara crivada de palavras não parece saber o que foi o retrato Dorian Gray.

Silêncio da noite, vago agosto-2008, em que escuto eletrodomésticos, sua vida útil. Sonho o real retrouvé. Leitor de Milo Manara, com a perversão urbana espectral quase Bom Marché, desvendo receitas que devo seguir. Recebo os vencimentos da civilização, leio blogs de reacionários pedantes, desentendo ao mesmo vento o Brasil. Tampouco estendo à caligrafia azul. Agora meu livro (orações...) está editado e resta o vazio,.. as feiras de livro, a internet, os sebos..

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