É por algum tipo de sonho, como fosse à catarses que libertam, que imagino ou lembro o aeroporto. Mário Quintana disse que “a imaginação é a memória que enlouqueceu”. Confundo o som agônico do ar condicionado com o interior de um avião, a respiração livre numa experiência seca.
Ou antes, no aeroporto que insurge sem lei nem veredicto, um café para degustação de livros, no anteparo de sonho na leveza de sua revistaria. Esse aeroporto, que não desexiste, nem reelabora outro ponto de fuga no desenho e sua perspectiva, apagando com o grafite numa folha sobre a mesa, vira lenda. Ensina à História.
A parábola descrita pelo avião atravessa desenho e mesa. Nela vejo claramente o trânsito de aeronaves. Sua arquitetura mostra o aeroporto, onde estou dentro dele, escrevendo este texto. Escaninho marrom claro, livro de registro, formulários empilhados, encadernações... Transformados em prédios acolhedores, estruturam a tarde para os livre-cativos do vício de viajar. Deve haver um subsolo, como no Municipal, onde trafegam transeuntes dispersos pelo mundo que têm na cabeça. Construo as pistas de decolagem e pouso, o terraço de onde vejo meu pai chegar de São Paulo trazendo um carrinho de ferro Matchbox. Encaro a aeromoça, sobrevôo em segundos a sala, o Brasil; atravesso da mesa a morte do dia e despacho o último processo.
A revistaria tem o cheiro discreto de papéis e revistas corrompidos pelo Marketing. A beleza fácil das moças nuas e o quase gosto dos pães tenros que racham devagar nos dentes. O silêncio impregnado está em tudo, é de uma espécie apaixonada e não procura motivo para o amor. Ao contrário, as respostas fáceis, embora continuem aqui, parecem não ter importância quando vejo, surgido e claro, meu desejo descortinado.
Estou só, é um pouco frio e bebo um café preto. Este é um momento sem motivo, apenas aparências. Estou em alguma cidade, perdido; lépidos os olhos da moça que serve o café sorriem também. Na mesa ao lado a senhora gorda devora croissans e suas filhas tomam suco; o telefone celular de um executivo; a mulher de meia idade com a edição da Elle. O trânsito de amenidades, num império belíssimo, atrai para o cerne do texto o destino desconhecido desta viagem, tão inútil quanto ficar. A ilusão plena das horas que amontoam a solidão dos outros na beleza pagã apagará aos poucos a tarde até suas últimas canções.
Seu infinito pouco retornará usando mesmas malas, roupas, sonhos, pacotes. Estão marcadas as passagens, em algum lugar de alguma folha mostra de papel carbono, fina e leve com asas de um pássaro de sonho; pássaro de papel craft; pássaro de escaninho; pássaro de papéis burocráticos endereçados ao silêncio.
Ou antes, no aeroporto que insurge sem lei nem veredicto, um café para degustação de livros, no anteparo de sonho na leveza de sua revistaria. Esse aeroporto, que não desexiste, nem reelabora outro ponto de fuga no desenho e sua perspectiva, apagando com o grafite numa folha sobre a mesa, vira lenda. Ensina à História.
A parábola descrita pelo avião atravessa desenho e mesa. Nela vejo claramente o trânsito de aeronaves. Sua arquitetura mostra o aeroporto, onde estou dentro dele, escrevendo este texto. Escaninho marrom claro, livro de registro, formulários empilhados, encadernações... Transformados em prédios acolhedores, estruturam a tarde para os livre-cativos do vício de viajar. Deve haver um subsolo, como no Municipal, onde trafegam transeuntes dispersos pelo mundo que têm na cabeça. Construo as pistas de decolagem e pouso, o terraço de onde vejo meu pai chegar de São Paulo trazendo um carrinho de ferro Matchbox. Encaro a aeromoça, sobrevôo em segundos a sala, o Brasil; atravesso da mesa a morte do dia e despacho o último processo.
A revistaria tem o cheiro discreto de papéis e revistas corrompidos pelo Marketing. A beleza fácil das moças nuas e o quase gosto dos pães tenros que racham devagar nos dentes. O silêncio impregnado está em tudo, é de uma espécie apaixonada e não procura motivo para o amor. Ao contrário, as respostas fáceis, embora continuem aqui, parecem não ter importância quando vejo, surgido e claro, meu desejo descortinado.
Estou só, é um pouco frio e bebo um café preto. Este é um momento sem motivo, apenas aparências. Estou em alguma cidade, perdido; lépidos os olhos da moça que serve o café sorriem também. Na mesa ao lado a senhora gorda devora croissans e suas filhas tomam suco; o telefone celular de um executivo; a mulher de meia idade com a edição da Elle. O trânsito de amenidades, num império belíssimo, atrai para o cerne do texto o destino desconhecido desta viagem, tão inútil quanto ficar. A ilusão plena das horas que amontoam a solidão dos outros na beleza pagã apagará aos poucos a tarde até suas últimas canções.
Seu infinito pouco retornará usando mesmas malas, roupas, sonhos, pacotes. Estão marcadas as passagens, em algum lugar de alguma folha mostra de papel carbono, fina e leve com asas de um pássaro de sonho; pássaro de papel craft; pássaro de escaninho; pássaro de papéis burocráticos endereçados ao silêncio.