Jornal na porta do Lamas, madrugada
Jaceniro tem o rosto marcado. Não por qualquer cicatriz. São seus ossos. Ossos pesados de carregar, feitos de papel. Juntos pesam mais que ele.
Jaceniro é homem feito. Feito homem num corpo anêmico, garoto de treze anos. Já é da noite. Vende jornais; notícias das quais ele é laboratório perpétuo. Está exposto. Não é isto se tornar homem?
A noite chupa os olhos de todos. De maneira que ninguém mais vê nada além das placas. Eternas morfinas conquistam lugares nobres no teatro interior dos transeuntes, esses mesmos a platéia pintada, Klimt. O espetáculo não se sabe qual é. Todos eternos. Mas Jaceniro atravessa sua história. Sem cultura. Ele nunca leu, James Joyce é tão livro quanto Paulo Coelho.
Quanto ao seu desempenho na escola, basta dizer que ele é brasileiro. Não por vocação. Ninguém tem isso mais. Brasileiro é um estado criativo de espírito. Brasileiro não vai à escola, e quando vai não gosta. Fazer o que lá? As verdadeiras coisas não são conhecidas lá. O bê a ba é a babá dos professores de Jaceniro: um ignorante. Um ignorante capaz de levar uma caixa de fósforos nessa avenida popular. Jaceniro vai passar. Vai passar de ano outra vez. Jaceniro é atemporal. A pobreza não tem calendário.
A família de Jaceniro é digna. Já tiveram casa própria, mas o bairro ficou mais perigoso ainda com a polícia indo lá. Os policiais revistavam as meninas do baile funk. Quando eram suas irmãs mais velhas, Jaceniro apanhava. Mas não gostaram de mudar. Só mesmo quando o tio morreu nas mãos do Cabo e sua mãe passou a temer pela vida de todos. Vomitava e tinha crises de paranóia. Gostava do fantástico. Ele e suas irmãs gostavam de baile funk.
A nova casa, alugada, não é melhor. Mas o Cabo não está lá. Alívio. Quando tem jogo do Flamengo tudo fica agitado. Morrer é fácil. Desde que nasceu Jaceniro sabe. Mas não que pense nisso. Jaceniro quer é ver o gol. O barraco não tem televisão, o Cabo ficou com ela. Jaceniro vê o jogo no boteco. As irmãs de Jaceniro agora vão ao boteco também. Tem um pagode nas terças. É perigoso, mas elas não ligam. Elas são bonitas, são Flamengo, são mulatas e menores.
Jaceniro tem o rosto marcado. Não por qualquer cicatriz. São seus ossos. Ossos pesados de carregar, feitos de papel. Juntos pesam mais que ele.
Jaceniro é homem feito. Feito homem num corpo anêmico, garoto de treze anos. Já é da noite. Vende jornais; notícias das quais ele é laboratório perpétuo. Está exposto. Não é isto se tornar homem?
A noite chupa os olhos de todos. De maneira que ninguém mais vê nada além das placas. Eternas morfinas conquistam lugares nobres no teatro interior dos transeuntes, esses mesmos a platéia pintada, Klimt. O espetáculo não se sabe qual é. Todos eternos. Mas Jaceniro atravessa sua história. Sem cultura. Ele nunca leu, James Joyce é tão livro quanto Paulo Coelho.
Quanto ao seu desempenho na escola, basta dizer que ele é brasileiro. Não por vocação. Ninguém tem isso mais. Brasileiro é um estado criativo de espírito. Brasileiro não vai à escola, e quando vai não gosta. Fazer o que lá? As verdadeiras coisas não são conhecidas lá. O bê a ba é a babá dos professores de Jaceniro: um ignorante. Um ignorante capaz de levar uma caixa de fósforos nessa avenida popular. Jaceniro vai passar. Vai passar de ano outra vez. Jaceniro é atemporal. A pobreza não tem calendário.
A família de Jaceniro é digna. Já tiveram casa própria, mas o bairro ficou mais perigoso ainda com a polícia indo lá. Os policiais revistavam as meninas do baile funk. Quando eram suas irmãs mais velhas, Jaceniro apanhava. Mas não gostaram de mudar. Só mesmo quando o tio morreu nas mãos do Cabo e sua mãe passou a temer pela vida de todos. Vomitava e tinha crises de paranóia. Gostava do fantástico. Ele e suas irmãs gostavam de baile funk.
A nova casa, alugada, não é melhor. Mas o Cabo não está lá. Alívio. Quando tem jogo do Flamengo tudo fica agitado. Morrer é fácil. Desde que nasceu Jaceniro sabe. Mas não que pense nisso. Jaceniro quer é ver o gol. O barraco não tem televisão, o Cabo ficou com ela. Jaceniro vê o jogo no boteco. As irmãs de Jaceniro agora vão ao boteco também. Tem um pagode nas terças. É perigoso, mas elas não ligam. Elas são bonitas, são Flamengo, são mulatas e menores.