01 março 2007

Ménage

Ives foi pontual. As vezes em que esperou uma mulher, no entanto, sentiu tédio. A mazela do homem é saber que o mundo é uma máquina masculina que a mulher não quer modificar.

O Leblon noite, olhando assim em diagonal é mar de rostos conhecidos. Um homem cinqüenta anos pagava janta pra pequena prostituta, olhava com pena. A moça desatenta mexia o jeans num Fórum popular, arreganhava a coxa igual criança.

Ives bebeu o chope com creme, sorveu Maria da Encarnação. Quando se conheceram no outro lado do oceano ela ainda estava solteira, mas já era a mesma mulher. Algumas mulheres mudam por dinheiro, outras nem assim. Maria da Encarnação pertencia à segunda categoria de mulheres; as que têm um cheiro de praia à noite.

Maria da Encarnação havia desencarnado dele; havia oito anos continuava a mesma respiração, seios, sofismas, olhos, perguntas. Ives nunca havia respondido qualquer delas, o politicamente correto não há por quê. Fazer exercício e dizer; parar de fumar; contrariar a catequese espiritualista de novela das seis. Isso não cai bem num publicitário.

Enquanto Maria da Encarnação e o marido vinham em direção à mesa, Ives passou o Zippo entre os dedos olhando o vestido leve que a trazia, chamou o garçom, pediu mais duas tulipas e outro maço. Levantou-se retribuindo um sorriso. Não havia felicidade, apenas desejo.

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