24 janeiro 2013

canção que vai chegar


discurso com gestos de glauber bermuda jeans até os joelhos com os pelos das pernas desenhados pela água enquanto lhe explico sob a chuva rala, as maserati tem o emblemático tridente da lança de netuno no radiador. o ronco é mesmo igual à do filme em que o homem que só tem cabeça sorri, bonito e jovem esportista radical do século passado. intocável. tirando o resto de franja da testa aponto navio faço cara origem da tragédia e por momento a nietzschiana filologia dos out doors é sinistro poema neoconcreto. o pássaro de asas negras rasga a praia qual filme enquanto anoitece trilha sonora de ennio morricone e num pedestal de areia desnovelo amenidades do trânsito, comento o futuro de uma cidade anódina, de outro tempo trago a tez da geração sem dor ou arte, embrenho as mãos nas nuvens ao reger a fabulosa orquestra que atravessa ao poente nos desvelamentos à caminho da linguagem que o desejo atonal apraia, derrama até o colorário rosado ser a tônica de gosto e sal. o ar ferroso nos envolve a morte certa dessa tarde, o segredo bonito que ela tem enquanto o choro do vento sul arranha minhas costas com o carinho de medo nas unhas superficiais. não é sonho. vôo camisa preta mangas compridas etiqueta fora do jeans velho magrelo, sinto de couro marrom de fivelas prateadas, cabelo desgrenhado desde aquela década, carta náutica de uma última viagem noite de lua: sobre as cidades, onde os falsos problemas esvaem e o sr. whitman joga folhas na relva dos telhados das casas burguesas já demolidas, silenciadas, modernas, perdidas.

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