Do
píer me vem o vento de sal no rosto enquanto escuto o quando imóvel Everywhen
do Massive Attack. Fone de ouvido. Praia lenta e lenda, sem te decifrar no
entanto a estendo tua conquanto não a saiba no que eu sei que aos poucos
explica minha paixão pela velocidade: saber que o tempo é o mesmo inexorável a
nos trazer um esmo, opor o mais que se escreva: o fluxo outro, o mar segredado
de angústia e desejo. Café. De quando em quando levanto me desfaço café, que
esfriará novamente enquanto sinto o aroma ao lado do teclado. Retroajo o Sísifo
contemporâneo se adio a volta ao supermercado Carone, onde uma vastidão de
crônicas aguarda desfecho e um comentário sobre livros LP&M em uma torre em
rotação roi uma unha possível: uma criança olhou minha mão direita e me chamou
de Wolverine: não há tempo para o sacerdócio do violão. Alunos de 8, 9, 10 anos
entram sala à dentro com espadas de plástico, e me ensinam movimentos de
neo-pós-samurais, depois querem tocar a música tal. Pego a lata de Leite Moça,
lembro do Barro Vermelho - ah, Itabira é apenas uma fotografia no stagram. A
trilha sonora supreendentemente faz um head over heels e volto aos 80’s. Tears.
A pequena criança que me namora olha meu capacete preto fosco no carrinho de
supermercado e depois diz que pareço supelerói. Entre os prédios das gôndolas,
a mãe, antiga colega aluna exemplar do lendário Monteiro Lobato me sorri: ela
gostou de você. Olho a pequena Clarissa; Gostei de você também, você sabe. Ah,
Isso ela sabe sim; me diz a mãe da musa. Citar Homero para a platéia e depois
cantar foi uma loucura apaixonada. Expando meu vôo, e estes últimos dias viram
devastadas pequenas mazelas caiadas, que se amorfanavam e sobrepunham sobre o
terreno de abismo no parreiral, onde eu mesmo em pegada me transfigurava e
atravessando toda a extensão do finito deserto chegava à rua com os pés cheios
de carrapicho. Assim entrava no carro e seguia, farto do lodo que a rádio FM sustentava,
e cético enquanto a noite caía comigo no trânsito enfático, onde por
encantamento mais tarde me viria o evento belíssimo das epifanias. O exílio
questionador dos homens indo ao happie hour me sustinha se a força que o corpo
quer fazer para ir se impunha até o contraponto nodal das marginais que talvez
existam num futuro distante. Meu pasmo ou espasmo engarrafados se atordoavam de
repente acordando no sinal de um outro caminho em que a trilha sonora era a When
the levee breaks do Led Zeppelin, porque nesse instante me vinha tua voz; Mas vem
cá, você só gosta de carros, motos velozes... então que significa esse Land
Rover verde musgo, esse... você gosta mesmo disso? como é mesmo o nome?; É
Defender; Isso, Defender... E então, desligando de súbito o som do carro,
permanecia em silêncio sabendo que o Land Rover é lentolerdo igual o inferno
particular, o deserto, o parreiral, assim como quando se salvaguarda a dor
segredada e contida, a que é preciso ser mulher pra administrar. Chuva. No
entanto estou seco no emaranhado dos dias, e lhe descrevo as formas banais das
nuvens, o funcionamento de máquinas que tampouco lhe serão úteis em teu
cotidiano, a literária presença de uma leitura, o gosto das tuas palavras. Em
meu sonho nós sorriamos, aliás, lembrei agora, você sorria. Eu mapeava (meu
desespero por mapas) toda a extensão do retângulo que nos habitava naquele
instante, os móveis, poltronas, uma mesa, o círculo desenhado do portal do
tempo, a estante encarnada com objetos. Olhava prum lado e outro, “o ladrão vê
em cada sombra o rosto de um policial”. Não quiz colocar a mão no bolso e achar
um lenço, por um momento desconfiei que o narrador fosse me chamar Iago. Você
passou uma das pernas no braço da poltrona, e depois a outra também. Olhava
para mim com uma roseana coragem. E sorria. Quando consegui desviar meu olhar
para o lado esquerdo, contemplei a quase totalidade do local, e me virei até
começar a andar em direção oposta a você, em direção às janelas de vidro,
imensas. Percebi que estávamos em um retângulo, o mesmo retângulo que me
persegue havia ali, presente no abajur, no tapete. Fui caminhando em direção às
janelas até que cheguei bem perto, coisa de metro e meio, daí olhei para trás.
Você estava na poltrona, agora num vestido amarelo comprido, não me lembro de
uma palavra na tua respiração densa. Foi quando por algum motivo (que só o
narrador deve saber) olhei para cima. Chocado percebi que a sala não tinha teto
da metade para frente, justamente onde eu estava. Ou seja, a partir de um lugar
não havia teto, era o céu que anoitecia lá em cima, embora os móveis, uma mesa,
e nela tua bolsa, e até meu caderno de números continuassem ali dispostos. E se
chovesse? pensei. Agora eu caminhava até perto de você, que tinha se levantado.
Outra roupa. Interrogação. O ar custoso, estávamos desesperados de paciência e
certeza, a imensidade da dúvida já era banal. (achei que fosse terminar antes
disso, mas não, tudo continuou)
03 setembro 2012
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