03 setembro 2012

Head over heels


Do píer me vem o vento de sal no rosto enquanto escuto o quando imóvel Everywhen do Massive Attack. Fone de ouvido. Praia lenta e lenda, sem te decifrar no entanto a estendo tua conquanto não a saiba no que eu sei que aos poucos explica minha paixão pela velocidade: saber que o tempo é o mesmo inexorável a nos trazer um esmo, opor o mais que se escreva: o fluxo outro, o mar segredado de angústia e desejo. Café. De quando em quando levanto me desfaço café, que esfriará novamente enquanto sinto o aroma ao lado do teclado. Retroajo o Sísifo contemporâneo se adio a volta ao supermercado Carone, onde uma vastidão de crônicas aguarda desfecho e um comentário sobre livros LP&M em uma torre em rotação roi uma unha possível: uma criança olhou minha mão direita e me chamou de Wolverine: não há tempo para o sacerdócio do violão. Alunos de 8, 9, 10 anos entram sala à dentro com espadas de plástico, e me ensinam movimentos de neo-pós-samurais, depois querem tocar a música tal. Pego a lata de Leite Moça, lembro do Barro Vermelho - ah, Itabira é apenas uma fotografia no stagram. A trilha sonora supreendentemente faz um head over heels e volto aos 80’s. Tears. A pequena criança que me namora olha meu capacete preto fosco no carrinho de supermercado e depois diz que pareço supelerói. Entre os prédios das gôndolas, a mãe, antiga colega aluna exemplar do lendário Monteiro Lobato me sorri: ela gostou de você. Olho a pequena Clarissa; Gostei de você também, você sabe. Ah, Isso ela sabe sim; me diz a mãe da musa. Citar Homero para a platéia e depois cantar foi uma loucura apaixonada. Expando meu vôo, e estes últimos dias viram devastadas pequenas mazelas caiadas, que se amorfanavam e sobrepunham sobre o terreno de abismo no parreiral, onde eu mesmo em pegada me transfigurava e atravessando toda a extensão do finito deserto chegava à rua com os pés cheios de carrapicho. Assim entrava no carro e seguia, farto do lodo que a rádio FM sustentava, e cético enquanto a noite caía comigo no trânsito enfático, onde por encantamento mais tarde me viria o evento belíssimo das epifanias. O exílio questionador dos homens indo ao happie hour me sustinha se a força que o corpo quer fazer para ir se impunha até o contraponto nodal das marginais que talvez existam num futuro distante. Meu pasmo ou espasmo engarrafados se atordoavam de repente acordando no sinal de um outro caminho em que a trilha sonora era a When the levee breaks do Led Zeppelin, porque nesse instante me vinha tua voz; Mas vem cá, você só gosta de carros, motos velozes... então que significa esse Land Rover verde musgo, esse... você gosta mesmo disso? como é mesmo o nome?; É Defender; Isso, Defender... E então, desligando de súbito o som do carro, permanecia em silêncio sabendo que o Land Rover é lentolerdo igual o inferno particular, o deserto, o parreiral, assim como quando se salvaguarda a dor segredada e contida, a que é preciso ser mulher pra administrar. Chuva. No entanto estou seco no emaranhado dos dias, e lhe descrevo as formas banais das nuvens, o funcionamento de máquinas que tampouco lhe serão úteis em teu cotidiano, a literária presença de uma leitura, o gosto das tuas palavras. Em meu sonho nós sorriamos, aliás, lembrei agora, você sorria. Eu mapeava (meu desespero por mapas) toda a extensão do retângulo que nos habitava naquele instante, os móveis, poltronas, uma mesa, o círculo desenhado do portal do tempo, a estante encarnada com objetos. Olhava prum lado e outro, “o ladrão vê em cada sombra o rosto de um policial”. Não quiz colocar a mão no bolso e achar um lenço, por um momento desconfiei que o narrador fosse me chamar Iago. Você passou uma das pernas no braço da poltrona, e depois a outra também. Olhava para mim com uma roseana coragem. E sorria. Quando consegui desviar meu olhar para o lado esquerdo, contemplei a quase totalidade do local, e me virei até começar a andar em direção oposta a você, em direção às janelas de vidro, imensas. Percebi que estávamos em um retângulo, o mesmo retângulo que me persegue havia ali, presente no abajur, no tapete. Fui caminhando em direção às janelas até que cheguei bem perto, coisa de metro e meio, daí olhei para trás. Você estava na poltrona, agora num vestido amarelo comprido, não me lembro de uma palavra na tua respiração densa. Foi quando por algum motivo (que só o narrador deve saber) olhei para cima. Chocado percebi que a sala não tinha teto da metade para frente, justamente onde eu estava. Ou seja, a partir de um lugar não havia teto, era o céu que anoitecia lá em cima, embora os móveis, uma mesa, e nela tua bolsa, e até meu caderno de números continuassem ali dispostos. E se chovesse? pensei. Agora eu caminhava até perto de você, que tinha se levantado. Outra roupa. Interrogação. O ar custoso, estávamos desesperados de paciência e certeza, a imensidade da dúvida já era banal. (achei que fosse terminar antes disso, mas não, tudo continuou) 

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