07 agosto 2012

O silêncio não tem paz


La fora a delicadeza dos vales, das horas do Sol. Nas estradas a memória fotográfica vazou sem a errática caligrafia. Meus fantasmas no tempo também se dilatam, expandem, voltam dele menores. Os sons soltos daqui do orbe em que vôo no chão ferem de soslaio olhando o que sou quando pássaro em alta velocidade. Empreendo a lógica concentrada que a força construtivista erige emergindo de si para sua solidão, sendo a bricolagem de devastações de cafesais e abstrações do mundo tátil sobrevôo em meu volteio musical aquele menino que deslisa no tapete de relva até o vale que margeia de tempo a montanha imensa. Minha geométrica visão da estrada faz o traçado definitivo de uma ultrapassagem enquanto confirmo que não encontrarei pelo caminho sequer o vulto do lendário caminhão Mercedes-Benz 1113, vermelho. A direção que a luz da tarde torna a derramar é o colorido de desejo, e a carne finita dentro do peito bombeia um fluxo denso do que antes é verbo. Sem palavra avanço mudo e é exato o dia como uma nascente, uma fúria linda que eu domei com carinho, ou que me deu isso ainda antes que suspeitasse sua in-possível realidade. No tempo a duração se amalgama e dobra volátil o dorso da tarde, tautologia sem rosto bancando o surreal. Escuto esse desejo all sound sofisticado num sopro de voz, o espaço sonoro em uma história da arte além da visualidade. Escuto os melismas, as contorções e microafinações de um mundo que não conhece o silêncio, não o aceita. Que sabe que o silêncio não tem paz. 

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