26 setembro 2012

Carta ao mar


Quando você me virou o rosto no baile eu não tive tempo de ouvir tua graça, teu cabelo de labareda vento sul e tapa de luva viraram perfume. O batuque crescia junto com meu rio longe dias ferreira e leblon que não sei dançar tão devagar. Do outro lado do salão era outro o mundo e eu lixava calos na mão de motociclista arrombando uma Heineken Homem Heineken verde raiva enquanto Plínio falava, falava. Sim, aquele médico, que também vem a ser amigo do pai de Poliana, tua amiga. Veja que mundo. Também vi quando Ulisses (ele foi meu colega de escola, éramos os magrelos péssimos no futebol e prontos para o aerópago) atravessou o salão correndo e me gritou, apressado igual jornalista; O Cíclope era de plástico. Do outro lado você, Poliana, Laura, Lady Gaga e Dora riam contando o caso do Senhor Karindo, aquele homem que hoje é pacato morador numa das ruas catalogadas por Elmo Elton em raríssimo livro sobre singelos logradouros da então nascente cidade presépio: Esse homem aos sábados caminho com delirante admoestação até a padaria, a banca, quando paro como se encontrasse pessoas que já não estão lidas há décadas: Homem com horror de motocicletas, e que da janela me ameaça com a bengala quando por acaso me escuta descer o tobogan de cimento nas noites de semana alta. Entrequei a cerveja na mão do Plínio, ou do colega também médico, que chegou com mulher e duas filhas le lis blanc frugal. Agora eu atravessava o batuque do salão. Calor com força e camisa polo preta obsessiva que me aparecia como armadura medieval. Aquele salão durou dias, noites. Paris-Dakar sem carta náutica. E minha destreza no Rallye burguês da Praia do Canto, apesar dos meus defeitos, não te impressionava. Você ria. Segura, viva, bonita, insatisfeita. Eu nenhuma palavra. E muitas nos habitavam risíveis tempos verbais quando você quer que eu saiba, mas não saiba tanto, e Eu não ouvia tua voz no que você falar com a Bailarina que cessa o volteio ao teu lado e assim fazia uma secante linda do salão no teu encontro, enquanto de longe me respirava o sonho; depois ao passar por mim também igual ciranda, do outro lado de tal cenáculo, recendia teu shampoo contando as palavras que você me olharia frontalmente num divertimento, em meu rosto. Até que nele fosses desenho, tatuagem. Os amigos, Johnny Depp, Marlon Brando nesse momento conversavam comigo, um deles tinha trazido minha cerveja das mãos do Plínio, que não bebe. Era o meu marco: Meu passo sem samba na contracorrente, a quixotesca loucura se te faço com os olhos a visão cruel de que das mulheres se pode entender apenas o corpo. Glauber, com quem travo há anos um jogo de xadrez às cegas, passou por nosso pequeno agregado machista e rispidamente me esbarrou no ombro; Bispo no quadrado 7, torre no quadrado 5. Beth Carvalho cantava bombada nas caixas de som Beringer de baile aquele samba que eu escutava lá em Manguinhos, nas noites claras de lua no dorso da Musa, no bar do Geraldo e depois, na areia da praia, sendo eu próprio minha carta ao mar. Você me fulminou como se procurasse outro livro com aquele mesmo estúpido da livraria, aquele que não sabe pronunciar palavras difíceis. Lápis sutil. Impávido, eu desintegrei por dentro igual a memória do The Cure um comentário. Meu corte foi a flôr de origami que você segurava ter caído. Eu fui mais rápido. Obrigada..(sorriso) Eu vim aqui vírgula reticências; O que?? Não entendi o que você disse..; (aumentaram o som, o narrador avisa,))) Eu disque vim.. aquii falaar com...

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