28 maio 2012

terceiro pier


era hora do mar oceano adjetivo emudecido pelo ar condicionado e adriana calcanhoto me dizendo que nada ficou no lugar. herpes zoster com metade de um débil cinturão de pugilista que aparecera na pele irritada vestindo meu abdômem até o meio das costas, onde uma erupção final distribuíra em 30 dias consecutivos a inflamação estressada do nervo que o corpo esconde muito abaixo da pele, onde não se desconfia uma profundidade, e que dela um dia se esparrame pelo corpo num translado dissoluto tal revolução sem palavra até que a mesma se transmute na superfície sob a força da palavra dor. aquele sinal demorou século. por algum motivo minha fotofobia não precisou sobreviver ao vidro aberto e mirar a moça que viria entregar o flyer da construtora com o total life para a suposta classe média. homem neandertal indo ao supermercado carone, o tolo entendimento de que gilette é muito melhor que bozano pra uma barba bem feita de tanto nada valerá quanto acoplar o iphone no painel para uma escuta depurada do meu everywhen particular através do massive attack. a falta que a poesia faz carece vir do firmamento, parece aquele beijo, era um sábado menos nublado que os dias anteriores, dentre os quais eu havia roubado uma tarde para andar na praia descalço desafiando o comentário silencioso das ondas com o jeans cinza desbotado de ocidente individual. il était nécessaire de dégager la philosophie qui à la fois légitime la fondation... porque as palavras escritas estruturavam tal encontro à beira mar em meu próprio caderno capa preta com elástico me carregavam procurando fundamento para um desejo sendo levado à abstração. la condition postmoderne era a rede finita e viral descritiva matemática em meu alfadesalfabeto desde a leitura cega, les éditions de minut do livro lido em português há coisa de onze anos, presente de um amigo psicalanista postado pelos correios que avizinham a livraria argumento no leblon, na dias ferreira. e agora, que os últimos questionamentos sobre o processo de uma escrita essencial me impunham a rota do pensamento às sentenças conhecidas, descobrira uma dicção especial para a impossível correspondência desejada também em um mundo construído a partir da palavra, onde sua leitura atenta o faz existir para mim. o francês, sendo ar, talvez venha mais a saber lidar em meu embate com a praia brava que deixa uma bruma de gosto capaz de esconder a usina multinacional no horizonte de ferro. tateio uma leitura autodidata. se os surfistas a decifravam estando desde a ilha de pedra e na descendência do vento insinuavam a lira mentirosa de hermes ou a paixão submersa de netuno tanto se faziam sendo fotografados por uma pequena multidão que se aquinhoava sem mitos no calçadão, também pouco acostumada ao arrojo e à poesia. no trânsito da orla o destino era cada sinal, e a vida nos escapava, coçava no abdômem sob a camisa hering branca qual armadura não seria o vingador da modernidade?, reivindicando o flaneur odierno à baudelaire. a lembrança dos dias anteriores com os pés na água do mar me vinham enquanto eu ia embora, e naqueles passos contra o horário do mundo dos homens rudes, meu desejo, meu small time shot away encontrava o nublado da praia, meu corpo ainda gasto pela convalescência ia comigo enquanto eu caminhava e lhe avistava também vindo ao encontro do tereiro pier, de forma que assim nos encontrávamos sem a decifração desnecessária. sem o egocentrismo do mundo do narrador que não nos veja agora em nós tão liberto. com a verdade corpórea e fundante essa tarde magma é vã e magna carta, vulcânica alforria de um mundo de labirintos e alegorias. tuas palavras por um instante entrelaçadas ao vento embaralhavam como se fosse teu cabelo serpenteando o fogo do poente do trânsito de agora, até que voavam dançando para a imensidade no céu nublado. no trânsito engarrafado eu traspassei a cabeça com a lista de produtos que me trazem a felicidade, aceitei o destino dos homens de bem, subitamente lembrei a esquecida data para devolução dos livros à biblioteca setorial.

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