Passos de engodo Adidas e para trás o sonho interior em real se revelava à medida que me apartava da escultura dos grandes galpões geminados. Em silêncio assim voltava na direção da rua e até ela cumpria o rigor dos cinquenta metros de terra domada por tratores Carterpillar, que não puderam contudo estabelecer domínio sobre a várzea parazita: ali também embrenhada nas ilhas de brita esboçando insuspeito mapa tridimensional no chão terraplanado com entrerrestos de decaída mobília que por si destroçara amalgamada à terra, ao ferro retorcido e sem valor para sucata deixado por empreiteiros que faliram esperando o milagre econômico, a boa intenção, os mil platôs nas multinacionais de além mar. Foi já com a mão direita no portão da rua o conhecimento de que meus pés, desde o riacho que divisará o fim de tão surdo campanário, estiveram cheios de carrapicho e desvelações. Bati o portão com força, entrei na caminhonete estacionada na entrada dos carros, ao lado do caminhão Mercedez-Benz 1113 da material de construção avizinhada. Anoitecera de repente sem rádio ou silêncio do carro motor Fiat sem acelerar. No sinal vermelho eu sou o bicho engarrafado enquanto o pássaro de asas negras faz a metáfora. Dear Prudence, mordo o lábio seco de baixo e sou o deserto sem Land Rover Defender verde musgo; vejo que a Norte Sul engarrafará o mundo lento o qual não me lê, nem se dá que existo. Se lhe datilografo cartas ou antes em digitá-las edito sonho quando as leio no imaginário de uma letra enquanto és também para mim desejo e cidade, perco o bilhete de seu realejo sem nostalgia. Sem surpresa a chuva, e nós, pobres homens sem happye hour: Policiais policiais; cavalos amarelos; motorista do lotação sem Dama; ambulância sufocada; motociclistas sem coração. Tirava das mãos a gracha do portão com uma estopa que despedaçava com negrume e decisão quando o carro emparelhou com o Golf azul marinho de Paulo, escrito no post Amantes à mesa. Paulo, como imersa maioria, não sabe que é personagem imenso num mundo. O Narrador lhe dá preferência no trânsito, o adianta sinal por instantes. No cruzamento da Norte Sul, enquanto me expurgava as mãos vinha aos olhos da mente o desenho inteiro do terreno em que estivera e quanto lhe havia arrancado de erva daninha, assim como o custo da capina até as árvores centenárias. Além disso pairava sobre as imediações anoitecidas uma chuva rala, perene, que me fazia supor um choro a levitar em silencioso bailado, música de semibreve cintura quando deitava de bruços com desleixo e carinho onde éramos seu tapete ou palco para a leitura de nossos sonhos, incendiados pela obsessiva rotina dos sinais. Ocorria-me também que por sobre o corpo de escuro do parreiral, cinco, seis quilômetros já passados, essa água doce acarinhava o trânsito dos homens rudes. Meu braço magro civilizado endossava a seta à esquerda e era cordial ameaça ao motorista do Transcol amarelo: O código corporativo do macho branco sempre no comando seguia a cartilha do mal estar na pós-modernidade enquanto a vida de Paulo me aparecia diáfana: Suas imperícias com Helena, adornavam a solidão do homem que perdeu os amigos de casual day, quando a sexta-feira chegar ninguém lhe dirá: não tente compreender. Desenvolto ou escaldado com mulheres solares, decididas a irradiar forças também solares, a presença de Helena, em tudo lunar, acendia pequeno sorriso em meu rosto, onde essa brilharia verbolunar, e acenderia o outro lugar irreconhecido, desterrado de felicidade e um prazer o qual não fora aniquilado pelo último recapeamento na avenida engarrafada, onde, aberto o sinal, finalmente acelerei. Intuí, tudo apagaria encantamento, talvez a cena reescrita que voltava para mim ao terreno ermo de abismo e palavras, as quais na iluminação de sentinela, afeita à guarda sazonal da rua, não foram achadas na vastidão sonora dos quase falantes. Ou na respiração com que a terra faz aos poucos e em silêncio um ventre coberto por alheia roupa que se torna pele nua, e, nela, nome próprio, também não foram encontradas. Palavra, saga das mais difíceis, és deliciosa. Quando toda terraplanagem soterrará o meu desejo acordo sem ter perdido, o Gothan Project capa de pescoço nu relendo o tango esvai e vem até mim.
21 março 2012
Terreno
,..
,.
- jan. 2021 (1)
- set. 2020 (1)
- jul. 2020 (1)
- jun. 2020 (1)
- abr. 2019 (1)
- jan. 2019 (1)
- dez. 2018 (2)
- jun. 2017 (1)
- abr. 2017 (1)
- fev. 2017 (1)
- nov. 2016 (1)
- jul. 2016 (1)
- jun. 2016 (1)
- mai. 2016 (1)
- abr. 2016 (1)
- jan. 2016 (1)
- jun. 2015 (1)
- mai. 2015 (1)
- abr. 2015 (1)
- jan. 2015 (1)
- dez. 2014 (1)
- ago. 2014 (1)
- jul. 2014 (1)
- mai. 2014 (1)
- mar. 2014 (1)
- fev. 2014 (1)
- dez. 2013 (1)
- nov. 2013 (1)
- ago. 2013 (2)
- jul. 2013 (1)
- jun. 2013 (2)
- mai. 2013 (2)
- abr. 2013 (2)
- mar. 2013 (1)
- fev. 2013 (2)
- jan. 2013 (2)
- dez. 2012 (1)
- nov. 2012 (2)
- out. 2012 (1)
- set. 2012 (3)
- ago. 2012 (1)
- jul. 2012 (3)
- jun. 2012 (3)
- mai. 2012 (2)
- abr. 2012 (3)
- mar. 2012 (2)
- fev. 2012 (1)
- jan. 2012 (4)
- dez. 2011 (7)
- nov. 2011 (4)
- out. 2011 (6)
- set. 2011 (3)
- ago. 2011 (5)
- jul. 2011 (7)
- jun. 2011 (7)
- mai. 2011 (6)
- abr. 2011 (1)
- mar. 2011 (4)
- fev. 2011 (5)
- jan. 2011 (1)
- dez. 2010 (5)
- nov. 2010 (7)
- out. 2010 (5)
- set. 2010 (5)
- ago. 2010 (6)
- jul. 2010 (4)
- jun. 2010 (5)
- mai. 2010 (2)
- abr. 2010 (3)
- fev. 2010 (3)
- jan. 2010 (3)
- dez. 2009 (3)
- nov. 2009 (1)
- out. 2009 (3)
- set. 2009 (2)
- mar. 2009 (1)
- out. 2008 (1)
- set. 2008 (1)
- ago. 2008 (1)
- jun. 2008 (3)
- mai. 2008 (1)
- abr. 2008 (5)
- mar. 2008 (2)
- fev. 2008 (2)
- jan. 2008 (1)
- dez. 2007 (2)
- nov. 2007 (4)
- out. 2007 (5)
- set. 2007 (1)
- mai. 2007 (3)
- mar. 2007 (1)
- fev. 2007 (1)
- dez. 2006 (2)
- jul. 2006 (1)
- jun. 2006 (2)
- abr. 2006 (1)
- mar. 2006 (1)
- fev. 2006 (1)
- jan. 2006 (6)
- dez. 2005 (7)
- nov. 2005 (7)
- out. 2005 (3)
- set. 2005 (4)
- ago. 2005 (1)
- jul. 2005 (3)
- jun. 2005 (2)
- mai. 2005 (4)
- abr. 2005 (8)
- mar. 2005 (5)
- fev. 2005 (2)
- jan. 2005 (3)
- dez. 2004 (5)
- nov. 2004 (5)
- out. 2004 (3)