16 dezembro 2011

casual day

Ele monitorará as máquinas de perfuração na chácara. Tênis Mizuno e camisa de malha M. Officer. Relógio de ponteiro (no pulso esquerdo, salve). Não tem perfume nem cara de motorista, talvez de perito. Movimenta os ícones do smartphone com agilidade, mesmo tendo dedos gordos. Brincos nem pensar. Careca. Óculos armação Armani atento conservadorismo. É um homem mediano, mas inteligente, educado com um salário digno. Eu o levaria de ar condicionado ao aeroporto mas o vendedor do plano de saúde se ofereceu. Todos estão felizes, riem, fazem um gracejo. O café copo de plástico recende acima da mesa. No corredor com janelas gradeadas o homem gordo guarda o celular e espera enquanto observa o andamento do Escritório de Papeis Nocivos. A conversa de Iago com a nova diretora de aclimatação sobre a concepção de novos processos não lhe escapa ilesa. Frase de Renato Russo, mais do mesmo rondará a assertiva Política da Qualidade. Escuto lá da mata um assovio do Anhangá defendendo o local da tirania dos homens de bem. O homem gordo olha, poucas as feições que no rosto acham graça e já começo a dar-lhe mais score de QI: Antes que sua carona termine de engrupir no coro da ladainha corporativa com o plano de saúde empresarial o gorducho estará apto ao teste da Mensa. Olho, vejo que aos poucos ele engorda mais. Enquanto isso a nova diretora de aclimatação define as novas diretrizes, as quais Iago engole, meneios de cabeça em silêncio nenhum enquanto remexe no bolso um lenço com borda carcomida. Pela janela vejo Hotelo campear o pátio cinza onde os Dragões sem escola se reúnem para o jogo de truco de final da tarde casual day. Esses bichos vem do céu no alado soberbo de coloridas asas e se assentam ao redor da grande mesa de aço rebitada no chão de concreto reforçado. Hotelo, como bom mouro rude, doma essas feras e com elas envia por entre nuvens lindas um exército de mensagens criptografadas aos mundos do tempo-espaço, da imagem-tempo, do sonho-langor. Desbrava guerras, reinados, bibliotecas, camas, tardes e vozes inexistentes daqui à anos-luzes pela física subatômica até admitir o Quark Top démodé. Mas de repente sai pelo imenso portão azul, vai embora banal. Deixa para traz o que foi perdido, não se desassossega mais. Finalmente o pequeno filisteu do plano de saúde termina sua preleção, advém da sala da gerência ao custo zero do andar estóico e leva de carona o homem gordo um pouco mais nutrido e pesado com mazelas do Escritório de Papeis Nocivos. Gordura. O que ele viu aqui permanecerá em segredo. Bebo meu café, preciso ir também;, está na minha hora.

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