A Mesa

.....sonhos assim organizados, rodeando em pensamentos plásticos, perfilam pequeno catálogo de notas em que meu museu imaginário se estabelece. Minha paixão por catalogar Melismas esparramados na tarde estranha é coisa sem nome ou poema, que se acumula em si mesma e em outra outra e em mim. A solidão do almoço decupado em que a cena desse estranhamento é diferente repetição para um diálogo interior. De chofre a chegada de corvos que não dirão Never More mostra o baque sonoro da televisão mambembe século passado. Assisto mastigo renego hoje a batata quase-frita, a moça que atende à mesa de tão simplório claustro parece não reconhecer meus modos quando agradeço pela coca garrafa de vidro como se estivesse no pretérito restaurante daquele hotel centro do Rio com meu pai. Nesse almoço, eu e ele conversaríamos longamente numa Cosmovisão vespertina planando sobre toalhas brancas em sobreposição, fineza que os lugares aconchegantes proporcionam como cenáculo ao propósito de banal eternidade. Naquele dia, enquanto a Candelária se engalfinhava com trânsitos marciais no fluxo dos tempos, em nossa Mesa uma memória futura sonhava por nós sem sabermos, na candura que tem os lugares de viagem em que podemos contemplar o mundo e falar-lhe o que de nós lhe falta para nele vivermos.