Sempre detestei dormir. Aceitar o efeito do tempo, o horário que nos sobreviverá. Sempre perguntei aos jornais, aos amigos que se foram e dormem, ao silêncio.
...A casa grande, o quintal cheio de mangueiras, as janelas modernistas daquela arquitetura. O barro vermelho que nos lavava do pó ao pó quando chovia. E estávamos quietos... bicicleta Monark, Dodge Charger capota preta do meu pai, o autorama Revell de colecionador, os livros, enciclopédias, os discos de Beethoven...
A infância sem fazenda do menino urbano retroage o signo sal efêmero da terra e o meu Beto Guedes cantará quando entrar setembro. Sempre perguntei aos jornais onde eu estaria, esses periódicos que em mim habitam porque os edito em meu amor ganancioso enquanto me esqueces, rua esquálida... desmemoriada de nossas casas, enquanto calas meus desejos e vícios para entregá-los em ausência às novas gerações e seus transeuntes, que não poderão saber de nossa história.