25 janeiro 2010

Épistémè

Dona Joana, recebi já há muito tuas últimas flores, aquelas que chegavam com certa freqüência, transportadas ainda com lembrança de teu perfume, e de mim mesmo sabiam, assim como hoje podem intuir minha angústia pela tua distância. Essas tulipas nuas perfilavam minha mesa ao lado do porta-lápis em marchetaria para assistir minha mecânica de escriturário ou geômetra, abrigavam meu carinho pelo afeto de tua chegada, estando em minha ordenação faminta de tuas palavras languidas e desprotegidas contra minha admiração. Em teus bilhetes que acompanhavam o colorido natural nunca encontrei receio de que um dia me fizessem saudade; assim desvelo a calma intensa de um novelo de palavras mudas até que um corte rosa me escapa em sonho e acordo o avesso, transpiro as costas da noite de treva e caminho trôpego até um oásis de água gelada, o calor impregna meu corpo de ossos enquanto chego à sacada gorda, respiro consternações no céu; não reclamo, absorto em prazer e cosmo, faço declinações em que lhe torturo até o choro de torpor azul, depois volto a mim.

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