07 janeiro 2008

Não espere por mim

Ela gosta de morar em Paris, usa um vestido leve. Relembra com Paulo Borges, antigo colega da PUC, o ritmo das tardes quentes. O curso de ciências políticas a intumesce o bico do seio, confunde rasos ideais plenos que eram de trabalhar na agência publicitária do pai, Ives. A moça flana pela Gávea até entrar na livraria. Está adorando o sabor da América Latina.

Paulo Borges é místico. Mas descrê de Deus; Idéia abstrata demais para o cadafalso contemporâneo. Afasta d’Ela La Défense, guerras, ecos históricos. */A ecologia jovem é um 1968Never More, um Corvo./* O rapaz da PUC abre no chão da sala o mapa da cidade, o caminho para o Arco do Triunfo no Leblon. A jovem aceita as férias no Brasil, e visita, também, a mãe, que a detesta.

Na livraria o Bookmaker lê Hölderlin em sua pequena morada, colou a fotografia do poeta num cartaz. Unta o cachimbo com fumo, quase o acende com antigo isqueiro. O poema não o deixa ver que a tarde cai espectral às suas costas; evocado, o ar condicionado protege e roça no corpo da moça o cheiro rosa na pele quando ela chega.

Delicado Bistrô, serve amenidades também serenas. A moça olha o Bookmaker e seu Grupo de Leitura da Grande Literatura – GLGL, que ali se reúne. Por trás dos óculos ela nada esconde. São olhos azuis, sem segredo, sem a última máscara. Duas mesas redondas servem ao Bookmaker e seus pupilos cigarros, croissans, vinho, livros.

Passando por eles Ela alcança revista entre prateleiras de indireta luz. Seu celular geme, mexe lá dentro da bolsa de palha carnuda enquanto ela pega, folheia, põe o dedo médio na brochura de Milo Manara, sorve a página; é Jean-Jaques. Quand tu il retournera?(Argh..) À pergunta do namorado, a Sensível lembra de Paulo Borges, que a penetra uma síntese chamando-a de puta. ...n'attende pas par moi, passei um dia na casa de minha mãe, ...agora quero ficar com meu pai.

,.