29 novembro 2007

O personagem

(...)Passei semanas me perguntando onde estaria Tainá, e em que lugar eu poderia reencontrá-la, já que o curso de línguas não existia mais. Meus dias eram uma incógnita sem preço e de repente um flash de uma ou outra lembrança acontecia de passar pela minha cabeça, até que delineava lampejos de destino, a nova rota */Os homens não comentam o desejo obcecado por uma mulher/* Talvez você não lembre de meu cinema com ela, ou mesmo dela. Fico impressionado quando dizem que você tem boa memória, vou te dizer o que aconteceu: no momento em que saíamos do cinema e descíamos aquele único degrau que nos dá a calçada da Voluntários da Pátria, você estava na sala de espera do analista, naquele sobrado neoclássico do Jardim Botânico./. Aí foi o caos. A tarde caía, você a rasgava por dentro. Coisa de poeta, vida ganha. Acabou com meu programa. Começou a achar que nunca iria acontecer aquilo, que ela jamais iria ao meu apartamento. Você fumava um Marlboro sentado de pernas cruzadas, a Mata Atlântica molhava quando te chamaram com a voz suave, de semblante. Ao apagar o cigarro, olhando a voz que o tragava os olhos, você pensava que Tainá nunca subiria comigo ao oitavo andar do edifício e deixou cair sobre nós a noite do mês de setembro. Fiquei sem saber o que aconteceria!, ao largo disso algo me fazia ouvir suas palavras, lá... deitado no divã. Que fiasco! Um homem tão capaz... Inacreditável o que você fala naquele lugar.

,.