27 junho 2006

Atol

A biblioteca está fechada. Estou dentro dela alucinado, pelado e morto. O que mais gosto nesse antialérgico é o slow motion, imensidão oceana e azul. A biblioteca com outras palavras nos envolve púberes aparentemente sem propósito; eu, todos esses editados e algumas sereias. A gente sempre repete, é a praga lacaniana.

Debaixo d´água o mundo é silencioso; estúdio de gravação. Danço tão Manuel como dancei na piscina do sítio em Niterói defronte onde filmaram a Escrava Isaura. Não encontrei Isaura, vi janelas imensas fechando a noite sem o branco na pele de Isaura. Escravas aristocráticas casam com senhorinhos de engenho, sonham com o sofrimento nas mãos do capitão do mato. Os livros abrem pernas seminuas e nessas folhas ensino um eterno nado de peito na borda noturna porque Isaura não sabe respirar.

Jogo pra lá uns livros de Rimbaud, problemáticos por esporte. E essa edição do Dicionário do Folclore Brasileiro, do Câmara Cascudo, agoniza mofada desde o sebo. Dentro dele, na primeira página tem uma poesia horrenda que a última dona colou antes de disponibilizar aos fanáticos. Eu sou isso, fanático. Penso na dona que vendeu o Cascudo ao sebo, onde eu comprei os 2 volumes; Não sei por que razão me importa isso. ...

Mais agora, finda a leitura da graciliana angústia, aquele menino chutando ramos da grande árvore no fundo do quintal alado. Agora está morto. Sem ponto exclamação sou cidadão sem exclamar nada o absoluto de cronologias que a rua lá fora cegou, passam das 3 da manhã de escuro. O texto fechado do rap em francês na música do Sting tem uma nostalgia, enfraquece na cabeça Concorde ou não o jato de sêmen que vai inventar outro mundo. O que tenho está perdido; amigos, continentes, cidades, bacantes, sátiros e florestas.

Danço dentro d´água, drogado de memória. Pior que o memorial é ser visionário. Daqui do sertão pop a vereda mexe os pelos de vento nas pernas. É o sopro do gênio que vence uma terceira margem de outro rio, fecha o livro.

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