20 setembro 2005

Departamentos

A moça seguiu em frente. Chegou perto, viu a saída à direita. Deu um, dois, três passos. Achou que era uma lavanderia, mas estava na cozinha. Imensa loja de departamentos, abriu uma porta à esquerda e desceu uma escada até o andar de baixo onde pôde ver que estava presa pela porta de ferro, a menos que a fizesse subir. Do outro lado o rapaz fazia força na mesma porta, quando ouviu que ela chegava, gritou... Clara, é você?; Oi, socorro, meu amor...; Fica aí; Ele foi procurar alguma ferramenta na loja da frente, mas chegando lá viu que estava no departamento feminino de roupas íntimas, não havia alicate, uma chave. Foi adiante, lugar mais escuro, agarrava pedaços de coisas estranhas até ver-se diante de um grande espelho com um vestido na cabeça. Destroncou um manequim até arrancar braços e pernas, com o tronco voltou à loja cheia de calcinhas, começou a procurar a saída. Por todos os lados era impossível. Enquanto isso, a moça dentro da loja em frente não tinha paciência, não ouvia mais o rapaz; começava a voltar o medo de que o homem vestido de preto voltasse a agarrar-lhe a cintura por trás; ah... a desculpa de não deixa-la mais, nunca mais, sozinha no escuro. Esse homem, vestido de preto (terno Armani) era bonito, mordidrácula em festas e fantasias aparecia; pegava a moça por trás, sempre por trás. Ela pedia, não fizesse, isso mas não tinha, forças para pedir,.. e deixava ser. Assim. Por alguns minutos quase, ficou quieta contrita. A histeria bateu forte e resolveu que ela podia achar, um su-jeito de sair que desse dali, antes do homem de preto, e sem o outro que lá procurava chaves à salva-la. Quatro lojas atrás dela o homem vestido de preto campeava uma cozinha, eletro-eletrônicos emudecidos pela noite, os quais também em silêncio esquivava de si; as vezes parando, abrindo uma geladeira, pequena leitura como procurasse água. Chegou numa porta de vidro, pela qual via a moça começando a se levantar do chão, onde havia sentado cansada do lado de cá da porta de ferro que a separava do rapaz. O homem vestido de preto parou por um momento, sorvia de um copo de plástico a água gostosa, deliciosa,.. sorriu devagar olhando o contorno silhueta da moça que arqueava o bem feito. Não a ouvia, mas pôde ver que ela se comunicava com alguém do outro lado, era o rapaz. O rapaz tinha conseguido achar a saída do departamento de roupas íntimas e acabara de chegar do lado de lá da porta de ferro com o inútil tronco de manequim, com o qual a esbofeteava até enverga-la rachando o artefato nas mãos e deixando intactas porta e moça. Ela, vendo a inutilidade da marcha em branco, suava o olhar na bolsa em curar o maço de Carlton, raro prazer; remexendo a confusão colorida em seu interior viu a cartela de comprimidos que deveria tomar em no máximo meia hora, num suspiro em desesperança disse alto: Jorge Antônio, eu não estou te ouvindo, cacete. Que c ta fazendo? Começou a ficar desesperada e saiu andando; Clara, espere, onde você vai?.. porra. Jorge Antônio ouviu que os passou de Clara se afastavam da porta, agora tentava abrir o trinco perto do chão com um canivete coreano. Atrás de Clara, atrás da porta de vidro, com a boca atrás do plástico do copo, o homem vestido de preto se deliciava. Esperava em silêncio que Clara voltasse, houvesse o que havia e sempre há; o gosto molhado sem gosto da água o acalmava. Os olhos afinavam uma paisagem conhecida. A moça, Carlton na mão sem isqueiro, gritou: Jorge Antônio, é melhor por trás. Fica aí, me espera. Quero dar a volta.; O canivete carmim entortou no trinco ao dar uma pequena girada para um dos lados, ele compenetrado. O coração do homem de preto batia, a palma de sua mão direita, como uma tábua, suava de vontade de dar um tapa gostoso que dói; já a esquerda, segurava a leve delicadeza jovem dos sonhos molhados da água. Clara seguiu novamente o caminho inverso, voltando a se afastar da porta de ferro subiu ao andar de cima, mezanino onde jazia silente o homem de preto. Quando acabou de subir cruzou novamente a porta a qual havia atravessado para descer ao início da loja e sua porta de ferro trancada. Virou agora à direita e passando com os ombros ladeando o vão do mezanino de onde via lá embaixo a porta de ferro abaixada, continuou lepidamente. Viu a porta de vidro que a separava da maior extensão do lugar, o departamento de eletro-eletrônicos que inaugurava uma imensa cozinha, resolveu corta-la também, procurando os fundos da loja a fim de dar a volta que queria. Quando estava entre os aparelhos e no escuro, vendo pequena a luz última porta entreaberta, onde poderia dar pouco de sua volta e ganhar o outro, lado no corredor de lojas onde estava Jorge Antônio, sentiu as duas mãos precisas. O homem de preto agarrando sua cintura e um seio, repente exato. (;;) Ficou em silêncio, apenas a respiração colava a nuca, à boca do homem de água, vestido de preto. Shuuuuu. Viram o jato de luz vindo lá de baixo, por onde Jorge Antônio abria a pesada porta com dificuldade ao máximo até meio metro e gritava..: Clara... Clara... onde você está? ...

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