14 dezembro 2004

Mumificação

Depois de vários anos sentado na poltrona, Paulo Durro está rijo. Foi um processo lento, persistente. Ao início da terça-feira seca, é Múmia. O homem morto em ilha drummoniara.

Sem qualquer conhecimento desta literatura Ellizete de Santa Luzia caminha pelo escritório na certeza de seus 16 anos, doce escuridão. Toda manhã ela fugiu de casa deixando a mãe ouvir de Roberto que são tantas emoções. Ser igual é o desespero da castração encarnada. Durro sentado à mesa desespinha um cacto e sibila o desejo lânguido de adolescentes estagiárias.

Acima do céu nublado um 737 desarma sonhos e déspotas. Lança para fora da cidade. Pontua numa análise morena. Esmaga sem boca a língua burguesa. Atravessa o Largo de bicicleta. Brinca com fotografias. Estanca toda uma linguagem.

O narrador sonha com esse avião,; sem palavra ou carta náutica atravessa a nuvem úmida de eletricidade. Do chão ameno os transeuntes não podem saber com um olhar que se esvai para o céu sem penetrar uma abóbada opaca.

Os olhos de Juliana são lindos; ágeis, mudam de cor rapidamente. Esperta, usuária do Mac; sorri os braços até seu herói vestido de cinza e camisa da Richard´s. Chega de surpresa pra visitar o pai italiano, chefe suportável que Paulo faz em dança de pajé quando chama a chuva bem vestido que é, elegante mumificação. Dr. Mauro Castro assina o cheque sem culpa; ela moça sorri que os olhos diminuem para caçar o Paulo Durro no escritório. Mesada feliz que escapa e tem sangue no horizonte. Ellizete de Santa Luzia cai do mundo preto até a relva loura que a moça espalha púbere junto ao olor em semínimas de Paloma Picasso. Saracoteia um pouquinho a ante-sala e encontra seu caçador empalhando telefones, camas e serpentes.

Paulo Durro está imóvel e ao contrário aéreo sôfrego sabe que a esquerda nunca é livre, apenas, moralista. Olha parvo o monitor no Le Monde, notícia bem contada para seu narrador. Tenta escrever no Windows a esse narrador, tentativa desesperada; erra em teclar palavras caricatas, espera que por encantamento um e-mail do outro venha pelo fóton da estória responder a qual das menores ele ensinará, mestre avant-garde; carinho e perda em passar palavras de ano em ano o saber da Cola Tenaz.: A resposta não vem,.. antes alucina esses personagens e todos que esperam também na ante-sala, mas sem o saber: sua angustia e desejo suam toda a estrutura que o narrador goza em silêncio num outro lugar. Ele lê as considerações de Paulo, mas não sabe qual será o destino das moças, argumenta consigo o que nunca soube em qual delas fosse o que poderia ter feito perder o excesso de história para apenas uma vida mal traçada. Paulo Durro ainda tenta outra articulação, mesmo sem ter recebido resposta; sabe que o narrador nunca responderá. O narrador é um homem que só pode falar de si.


,.