05 abril 2017

Princípio

O dia amanheceu. Estou acordado desde três e meia, quando o despertador me arrancou do sono para o remédio. Estou no pouco da náusea. Não a sartreana, mas do antibiótico. O efeito desse tempo acordado em que pensei tanta maldade.

Não que fosse uma maldade minha. Pior que isso, da vida que se avizinha e é nossa em nossos atos. A luz do dia não tem dissimulações. O mal estar oferecido pela alopatia faz parte da melhora ignara que trará meu peito sedimentado pelo catarro ao ato esportista na esteira da praia de outono. Na clínica Santa Paula, a Dra Camila avisou que poderia ser um princípio de pneumonia e eu dessa vez me resignei, estou seguindo o tratamento.


Escrevo este recado para que você veja a cena, leitor. Estou sentado no sofá, ao lado do abajur desligado. O livro de Arte Moderna do Argan está no braço largo e deserto que me separa dos novos indexados rumos da arte contemporânea e visto meu moleton preto, descalço, com uma camiseta onde vai escrito I’m ready I’m ready I’m ready. Escute também os ônibus da avenida (chamo de avenida) e o contraponto dos pássaros nas árvores, é uma orquestra. Violoncelos e flautas. Um grande silêncio parece ter vindo.

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