O dia amanheceu. Estou acordado desde três e
meia, quando o despertador me arrancou do sono para o remédio. Estou no pouco
da náusea. Não a sartreana, mas do antibiótico. O efeito desse tempo acordado
em que pensei tanta maldade.
Não que fosse uma maldade minha. Pior que
isso, da vida que se avizinha e é nossa em nossos atos. A luz do dia não tem dissimulações.
O mal estar oferecido pela alopatia faz parte da melhora ignara que trará meu
peito sedimentado pelo catarro ao ato esportista na esteira da praia de outono.
Na clínica Santa Paula, a Dra Camila avisou que poderia ser um princípio de
pneumonia e eu dessa vez me resignei, estou seguindo o tratamento.
Escrevo este recado para que você veja a
cena, leitor. Estou sentado no sofá, ao lado do abajur desligado. O livro de
Arte Moderna do Argan está no braço largo e deserto que me separa dos novos indexados
rumos da arte contemporânea e visto meu moleton preto, descalço, com uma
camiseta onde vai escrito I’m ready I’m ready I’m ready. Escute também os
ônibus da avenida (chamo de avenida) e o contraponto dos pássaros nas árvores,
é uma orquestra. Violoncelos e flautas. Um grande silêncio parece ter vindo.