18 fevereiro 2005
Circo;
Tudo está sendo dito todos os dias. De uma forma, outra. As nuances muitas; as palavras umas devassas. Nenhum corpo pode suportar sua ausência, mesmo cego, surdo; elas precisam virar sinais, cores, espinhas, imagem. As formas de dizer são uma só; um erro constante nos faz pular de boca em boca. Nós vamos nessas bocas, repetidos e aviltados, escapando de seu contorno como a língua que salta sem moral para dentro da nossa. Esse beijo mexe com a gente sem reserva, perdão, nojo, eternidade. Todos os dias essas coisas ditas perambulam, viciadas que estão de um silêncio esparramado, repartido, aceito e desgraçado: a normalidade, caro amigo. A ausência de loucura dos locais vencidos, meia idade com injeção letal. A falta de gosto dos ajuntamentos que congregam o pouco desejo dos diálogos a procurar formas de manter a sala de estar. Estar morto. Ex. Ex-vivo, ex-gozador. Ninguém goza. Conversando sobre a bolsa. Bovespa, Victor Hugo. Constipação. Florais de botequim. Ninguém grita; as mulheres não gritam porque podem acordar os homens de uma doce anestesia onde eles se mataram. Tudo está sendo denegado todos os dias. O contrário das imagens que evoluem sobre nós engole o corpo dos transeuntes e revelados de repente esses coitados aparecem despidos. Não de roupa, sua capa de carne. Seus rostos de repente começam a deformar e enrugam ou se renovam, ganham cores, movimentos, sorrisos de maldade nas meninas inocentes. Um aceno de olhar puro no professor de química. A riqueza dos mendigos. A falta de ganância dos homens de terno, tão jovens. Tudo está sendo consumido. Ao tempo que mastiga devagarinho a beleza das pessoas e depois cospe, chamam amadurecimento. A carne tenra das palavras, no entanto, continua.., para ser mordida, experimentada, que delícia. A carne rosa dessas horas que as tardes nunca lamentaram. Apartamento perdido na polifonia da cidade, lá no alto a dor que mancha o bairro reaparece até que seu interior dilata num anfiteatro de imagens para dançar no fim desconhecido. O trânsito furioso, o vizinho outro lado de rua que fuma solitário e depois joga da varanda, abaixo dele uns quatro andares um casal de namorados; a moça deita sobre o rapaz, ao lado da cadeira branca. Apartamento mudo, cheio de sons e desespero, sua rotina expressionista ouve a cidade maravilhar seu corpo para dar um abraço de coxas sobre o que desafia o mundo. Todas as tardes. Todas as tardes estão sendo escritas. E não se pode generalizar, dizer, acreditar ter o resumo. Não. Todas as tardes mentidas, derramam sobre esse dia, deitam sobre eles e depois sentam até que entre nelas o último olhar sem roupa. Todos esses olhares estão sendo ditos, todos os dias. De todas as formas, usando ardilezas de Ulisses, nas costas do corpo que as palavras deixam, nas pernas que o livro abre sem medo, todos os dias estão sendo tudo. Quando o terror de ter morrido espanca as horas gastas e as flores sem estilo vem fazer perfume falsificado. Quando o texto escapa de entrelinhas para dizer que também irá ao fundo êxodo de si. Não existe parâmetro, esporte, lance, movimento, futuro, forma, deserto capaz de conter o que vem de todas essas coisas. Todos os ditos estão sendo dias. Mesmo que o mundo insista em fazer ainda mais desse esmo que nos vem tentar, nos ofereça dinheiro para que nomes sejam apenas estatística de marketing. Ou que as dores de escolher apareçam tão grandes a ponto de não termos coragem. O drama sem tragédia. Programa de auditório. A força do esquema sem adjetivos a seguir o curso que te diploma para ser a manutenção das famílias pagantes;
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